terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A São Silvestre da "inclusão", será?





Caros amigos de Blog,

a muito tempo não tenho postado, tive um final de ano meio corrido, mas neste dia 5 de janeiro de 2010, não pude deixar de colocar este texto sobre a São Silvestre.

No último dia 31 de dezembro de 2009, tivemos mais uma São Silvestre, a edição 85 da mais tradicional prova do Brasil, prova que gera um público de cerca 20.000 participantes, uma considerável renda, diversos patrocinadores e uma estrutura de organização que no Brasil só pode ser comparada com ela mesma.

Neste ano tive alguns atletas participando, os quais foram: Edson Dantas, Ademar Leite, Ezequiel da Costa, Hélio da Silva e Marco Aurélio Silva, todos ótimos atletas, que se preparam pelo menos 8 semanas para participar da prova que mais atrai pessoas com deficiência das corridas de rua da américa do sul, não tenho os dados oficiais, mas acredito que mais uma vez tivemos cerca de 200 deficientes participando da prova, cerca de 1% dos participantes, público timido ainda ao meu ver, mas um recorde de participação considerando outras provas pelo Brasil.

Desde de 2007 a Yescom, firmou uma parceria com ADD para auxiliar na organização de provas para deficientes no Brasil, o que desde o príncipio mostrou uma nova preocupação no atendimento adequado para as pessoas com deficiência desde o momento da inscrição até o momento da entrega de troféus ao final da prova, não posso negar que houve uma melhora no início do qual fiz parte também da organização, mas o que ocorreu neste última São Silvestre perde totalmente o crédito da organizadora, e mostra o comportamento habitual dos organizadores de prova no Brasil.

A diversos anos a São Silvestre tem o horário de largada para os deficientes às 14h30 as vezes é postergado para as 14h45, em 30 de dezembro de 2007, no jornal folha de São Paulo, saiu uma matéria a respeito deste assunto falando o quanto é sacrificante para o deficiente (http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u358582.shtml), lembro-me que nesta época tive algumas repreensões sobre um texto meu colocado de forma um pouco inadequada nesta matéria, do qual compreendo bem o motivo devido a repercussão gerada pelo devido jornal.

Mais o que queria dizer sobre a prova deste ano é sobre o o "atendimento inclusivo" dado as pessoas com deficiência na São Silvestre, como todo o ano a largada foi no mesmo horário, muito bom para a prática esportiva (mesmo com uma alteração no horário da prova feminina, que saiu mais tarde este ano). Mas além da questão do horário tivemos mais uma novidade, o primeiro posto de hidratação para os atletas com deficiência foi no quilometro 10, gostaria que o leitor se imagina-se em uma das provas com o circuito mais técnico entre as grandes provas do mundo, correndo por volta das 13h45 da tarde ( a largada é as 14h45 no horário de verão), uma temperatura de 28 a 30 graus, em uma cadeira de rodas ou utilizando uma protese de membro inferior, sem água!!!!!!!!!

É claro que alguns de meus atletas que se prepararam tanto para a proa, tiveram mal estar. O atleta Ezequiel da Costa, vinha na 2a. colocação geral entre os deficientes não aguentou e parou no Km 9,5, só continuou após receber hidratação pelos policiais militares.

O que não entendo é por que temos que ver as pessoas com deficiência de forma exclusiva em todos os meios da sociedade? Por que para dar emprego só é feito de forma forçada por lei? Por que um atleta com deficiência de alto rendimento, não pode ter o mesmo tratamento que um atleta de alto nível sem deficiência?


Abraços,

Daniel Biscola - treinador paraolímpico